Meu amigo Roberto estava ansioso para vestir seu suntuoso
traje de Papai Noel. Estava tudo preparado, incluindo a famosa barba branca
postiça e um imenso saco vermelho recheado de presentes. Era seu grande sonho
fazer essa surpresa para seu amado e único neto Robertinho e escolheu fazer
isso em sua escola. A aula terminava ao meio-dia, e às onze horas Roberto já
estava com tudo pronto em seu carro a caminho de onde estudava o neto.
No trajeto, viu uma tosca charrete conduzida vagarosamente na
avenida e teve uma grande ideia. Ultrapassou a charrete, deu sinal para o
condutor parar e alugou-a por um bom preço. Ficou aguardando no portão
principal da escola. Para entrar, deveria descer uma rampa toda arborizada que
dá acesso ao lindo pátio com lindos pergolados de flores coloridas. Vovô
Roberto, agora como Papai Noel, estava em pé no “trenó-charrete” espiando lá de
cima a movimentação, pronto para dar a partida.
Doze horas em ponto soou o forte apito da escola anunciando o
término das aulas. Isso foi o que bastou para assustar Gertrudes, a sua calma e
serena “eguinha-rena”. Como diz o ditado: no medo corra! Papai Noel sequer teve
tempo de sentar-se. Gertrudes correu desgovernada morro abaixo e Papai Noel
ficou ao “Deus dará”.
Gertrudes pegava velocidade e tudo que era puxado por ela
também, como os presentes e obviamente o próprio Papai Noel que ia pulando em
pé no “trenóchete” tentando se equilibrar com um esforço descomunal. As
crianças quando viram aquilo ficaram maravilhadas. Batiam palmas e gritavam em
coro: Papai Noel pampampam, Papai Noel pampampam! Era até bonito ver a condição
de equilíbrio que o Bom Velhinho demonstrava, se não fosse o lado trágico da
situação.
Diante do entusiasmo da criançada, mal se ouvia a diretora que
em pânico exclamava: “Meu Deus! Precisamos ajudar o Papai Noel.”
Para piorar a situação, o caminho era cercado de pneus como se
fosse uma espécie de cerquinha para enfeitar o trajeto. Foi então que uma das
rodas do “trenóchete” saiu um pouco da trilha e pegou o primeiro daquela série
de pneus.
Daí pra frente foi um pula-pula incrível. Quando subia ele
compensava o corpo se abaixando e quando descia ele se levantava.
Gertrudes já estava no pé do morro, próxima do pátio onde se
encontrava a criançada quando para escapar do alambrado que cercava o pátio deu
uma guinada para esquerda.
O “trenóchete” acabou seguindo Gertrudes, mas Papai Noel e
seus lindos presentes no meio da curva fechada foram arremessados com gosto no
lindo pergolado de flores e ali se agarrou firmemente.
A criançada não sabendo nadinha do que estava na realidade
acontecendo se deslumbrou com o voo de Papai Noel, mesmo sem o “trenóchete” e aplaudiu
muito, mas muito mesmo!
Vovô Roberto, embora um pouco zonzo, foi se restabelecendo
pouco a pouco do voo forçado e vendo seu netinho Robertinho entre as crianças não
se aguentou de emoção. Chorou por trás daquela barba toda desarrumada ao ver a
alegria de seu neto que pegava com os coleguinhas os brinquedos espalhados.
Hoje, Robertinho continua morando na cidade de Jacareí (SP) e é
diretor nessa mesma escola.
Quando chega dezembro, ao descer aquelas escadas, recorda-se
com carinho da melhor lembrança que ganhou na vida: seu “Avoo” Noel de
presente.
Autor: João de Azeredo Silva Neto
Membro da Academia Jacarehyense de Letras
Cadeira no. 4 – Patrono Orlando Hardt
Conto alegre, Azeredo. Bem do jeito seu. Venho acompanhando seu trabalho literário há anos e para mim você já marcou um estilo. Acho que a maioria dos leitores gosta desse tipo de narração. Continue.
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