Tive um professor de “canto orfeônico”, matéria antes obrigatória
no curso ginasial, de 1946 a 1971, ou seja, antes da reforma ideológica da
educação brasileira. O nome dele era Marco Antônio – mais apropriado para
guerreiro que para professor de canto –, mas quem disse que existe lógica na nomenclatura
pessoal ou, muito menos, na carreira brasileira de magistério?
O professor Marco Antônio era bom no que fazia; isso era. Como
guerreiro, nos ensinava que podemos fazer da existência uma grande peça musical
com todas suas nuances, ou um conjunto de várias músicas de menor duração cada.
Aí o Marco Antônio artista explicava que essas duas forças estão representadas na
música pelos dois principais tons: o tom maior e o tom menor.
Ambos estão presentes nas composições musicais. Geralmente o
tom maior passa para os nossos ouvidos a sensação de alegria, enquanto os tons
menores dão-nos sensação de tristeza, melancolia. Dependendo da ordem com que
esses tons entram na música, o todo fica alegre ou triste, ou seja, se o maior
vem antes do menor a música é mais para o alegre; se o menor vier primeiro, a
música fica triste.
Exemplo prático: Aquarela do Brasil, de Ary Barroso, começa
em Sol Maior, que é o tom dessa música, depois entram outros tons, porém valeu
a primeira. A música “De Cigarro em Cigarro, de Nora Ney, começa em Lá Menor,
música melancólica, triste “dor de cotovelo”. Nunca me esqueci disso e passei
até a observar erros primários de composição segundo o tema que se quer
desenvolver.
Por exemplo, a música Cisne Branco, hino da Marinha
Brasileira. Como hino militar deveria ser alegre para levantar o moral da
tropa. Entretanto é composto em tom menor, Sol Menor, portanto triste,
melancólico, desanimador até. Já imaginou um marinheiro semanas longe de casa
em alto mar, às vezes em missão de alto risco, ouve uma música melancólica? Ao
contrário, nosso hino nacional é alegre, “pra cima”, composto, óbvio, em tom
maior. Si Maior.
O maior contraste, entretanto, fica por conta de outro hino
muito cantado, mas totalmente destituído de poder energizante: O Hino Oficial
do Corinthians Paulista, composto em Mi Menor. Preste atenção ao resultado. Já seu maior rival, o Palmeiras,
entretanto, leva vantagem com um hino composto em Fa Maior: alegre, dinâmico, revitalizador.
É o professor Marco Antônio quem diz, não sou eu.
Pelo menos em matéria de hino...